Advogadas que atuam na área de família em Porto Alegre ouvidas por Donna confirmam pico de clientes em maio, que buscam por informações sobre como se separar 

09/06/2020 – 08h34min

Nathália Carapeços

NATHÁLIA CARAPEÇOS

olly / stock.adobe.com
Divisão de tarefas, criação de filhos, falta de parceria e questões financeiras estão entre os motivos principais para o fim do relacionamento de quem buscou o divórcio nos últimos dois mesesolly / stock.adobe.com

Se a hiperconvivência entre os casais ganhou ares de Big Brotherno distanciamento social é fácil adivinhar quem foi indicado ao paredão: o relacionamento.  Quer saber o resultado da berlinda?  Um boom no número de divórcios e na procura por informações sobre separação foi registrado em diferentes países, como ChinaPortugalEstados Unidos Itália.  

No Brasil, a situação não é diferente. A plataforma Divórcio Consensual, que une advogados a pessoas que querem terminar a relação, aponta um aumento de 30% nos pedidos entre março e maio na comparação com o trimestre anterior. Já as buscas por “divórcio online gratuito” e “como dar entrada em um divórcio” no Google também explodiram no período. 

Procuradas pela reportagem, advogadas de família de Porto Alegre garantem que o movimento nos escritórios apresentou um crescimento significativo, principalmente pelas vias online em razão da pandemia.  A advogada colaborativa de famílias Paula Britto, autora do livro Manual da Separação, conta que registrou o dobro de atendimentos em maio na relação com o mesmo período do ano passado:

LEIA MAIS

– Pessoas que estavam pensando em divórcio antes da pandemia e amadureceram a ideia no isolamento ligaram para saber da logística, pedir orientação. Alguns usaram esse tempo em casa justamente para recolher documentos, se organizar. Muitas relações se mantinham porque as pessoas se viam minimamente. É muito parecido com o aumento na procura geralmente pós-férias, depois do verão, no fim de ano também. São período de maior convivência familiar. 

O distanciamento social serviu para agravar situações que já eram difíceis em casamentos desgastados – não é à toa que a Associação Gaúcha de Terapia Familiar identificou um pico no atendimento de casais nos últimos dois meses. A advogada especialista em direito de família Bárbara Corrêa, por exemplo, notou um aumento de perguntas sobre o tema em suas redes sociais – ela descomplica o assunto no canal E Agora, Bárbara?, no YouTube, e tem quase 10 mil seguidores no Instagram. A internet se tornou uma forma silenciosa de buscar informações, já que muitas pessoas que procuram orientação às vezes não abriram o jogo ao parceiro.  

Alguns usaram esse tempo em casa justamente para recolher documentos, se organizar. Muitas relações se mantinham porque as pessoas se viam minimamente.

PAULA BRITTO

advogada

–  Minhas últimas lives abordaram especificamente o divórcio, como lidar com as emoções nesse momento, justamente por esse aumento das dúvidas que percebi – explica Bárbara. –  Acredito que a pandemia não fez com que um casal que estava bem decidisse se divorciar por causa da convivência, esta é a exceção. Quem tem me procurado não são casais que estavam bem, são aqueles que já estavam pensando em se divorciar. O isolamento só acelerou. 

Divisão de tarefascriação de filhosfalta de parceria e questões financeiras estão entre os motivos principais para o fim do relacionamento de quem buscou o divórcio nos últimos dois meses. Porém, a advogada Laura Moraes La Porta, atuante no direito de família e sucessões, defende que nem sempre a separação é o melhor caminho. Na opinião da especialista, não é incomum o casal estar aparentemente convicto do divórcio e, durante o processo, mudar de ideia. Ainda mais em tempos de pandemia, quando a incerteza e a ansiedade rondam todas as relações.

LEIA MAIS

– Não é porque eu advogo na área de família que acho que o divórcio é a melhor solução. Falo para os clientes que não é numa consulta que você precisa decidir se vai se divorciar ou não, porque não foi no primeiro encontro que você decidiu casar. Mesmo um divórcio consensual, quando os dois querem, é difícil. É abrir mão de sonhos, de planejamentos, traz dor e perdas patrimoniais, de convivência com filhos. Não é fácil – avalia Laura, que teve um aumento de quase 70% na procura de clientes nos últimos dois meses.

Quero me separar, e agora?

Se você está segura de que é hora de dar um fim na relação, fica a dica das especialistas: o primeiro passo é fazer uma consulta a um advogado especialista na área. Na separação consensual, quando ambos querem, o processo tende a ser mais fácil e rápido. Caso seja do tipo litigioso, a tendência é ter um desgaste emocional ainda maior. 

LEIA MAIS

Mesmo com alterações no judiciário em razão da pandemia, é possível dar entrada no processo de divórcio à distância. Mas, se a ideia é deixar o turbilhão do coronavírus passar para dar esse passo definitivo, uma boa opção é aproveitar o tempo em casa para reunir a papelada necessária.

–  Essa primeira conversa com o advogado é muito importante, porque é preciso entender que o patrimônio vai ser dividido, que vão ter guarda compartilhada dos filhos, vão ter perdas. Agora pode ser o momento da pessoa juntar documentos, pedir avaliação do imóvel para saber quanto custa o apartamento, ver quanto custa escola, inglês, plano de saúde.  Vai construindo isso tudo, se organizando aos poucos. Se o casal não tem filhos menores e a separação é consensual, nem precisa passar por uma ação, pode ir direto no cartório fazer tudo por lá – ressalta a advogada Paula.